A violência termina em mim

Esta é mais uma história retirada da obra “O mundo mais bonito que nossos corações sabem ser possível” de Charles Eisenstein que eu adorei por ilustrar o que podemos chamar de “paradoxo da revolução armada”. Nunca vamos conseguir parar a história da separação criando mais separação, precisamos de novas referências emocionais em um mundo saturado por discursos revolucionários baseados na identificação com o agressor.

Saboreie esta historia linda e veja um raio de luz na escuridão:

“Anos atrás Pancho se envolveu num protesto na universidade de Berkeley, onde ele fazia doutorado em astrofísica. Ele integrava um grupo de alunos que jejuaram em protesto a participação da universidade no desenvolvimento de armas nucleares. Depois de 9 dias, a universidade cansou daquilo e chamou a polícia para dar um castigo exemplar no grupo em greve de fome. A polícia quebrou o cordão humano que cercava o grupo, e um policial levantou o esquálido Pancho no ar, jogou no chão de concreto com toda força e depois, de modo brutal, o algemou.

Nesse ponto, a maioria de nós provavelmente cairia na história e nos hábitos da separação. Poderíamos reagir com ódio, sarcasmo, julgamento. Sem força física para vencer a polícia, talvez tentássemos humilhá-los em público, como alternativa. Se fosse comigo, imagino, minha indignação de uma vida inteira diante das injustiças do mundo seria projetada na pessoa do policial. Finalmente alguém para culpar e odiar. Quanto pior sua perseguição a mim, mais gratificado eu me sentiria, mais mártir, inocente e irreprovável. Dá uma sensação boa, não é? Ter alguém desumano para odiar com total certeza. Sentimo-nos absolvidos. E por personalizar o mal, os problemas do mundo parecem bem mais simples de resolver - basta nos livrarmos daquelas pessoas horríveis.

Pancho agiu de outra mania. Ele olhou o policial nos olhos e disse, com amizade sem nenhuma tentativa de fazê-lo sentir culpa: meu irmão, eu te perdoo. Eu não estou fazendo isso por mim, nem por você. Estou fazendo isso por nossos filhos e netos. O policial ficou confuso por um momento. Então Pancho perguntou o nome dele e disse: meu irmão, estou adivinhando que você deve gostar de comida mexicana. (Silêncio desconcertante) “Gosto”. Pois então eu conheço um restaurante em São Francisco tem as melhores carnitas, fajitas e quesadillas e, sabe de uma coisa? Quando eu e você tivermos acabado com tudo isso gostaria de quebrar o jejum com você. O que me diz?

Espantosamente, o policial aceitou o convite.”

Sempre que eu puder, vou compartilhar aqui histórias inspiradoras para que você consiga ver uma saída do labirinto.

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